O advogado Jesus Lange Adrien, já falecido, é o dono da certidão nº. 001 da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT). O documento histórico foi doado pela família de Adrien à OAB-MT e está exposto na sede, em Cuiabá
O documento foi registrado em 29 de abril de 1933. Jesus Lange Adrien era paulista e veio para Cuiabá assessorando um interventor. Por aqui ficou, fez carreira, casou-se e deixou descendentes mato-grossenses.
Um deles é Jesus Lange Adrien Neto, conhecido como Zito Adrien. Zito descreve o avô como um homem empreendedor e pioneiro. “Requereu muitas terras, para si e seus clientes, algumas delas fomentaram os primórdios dos municípios de Rondonópolis e Tangará da Serra por exemplo”, conta.
Jesus Lange Adrien era amigo do líder católico Dom Aquino, que foi governador de Mato Grosso entre 1918-1922. Uma autoridade respeitada, por familiares, amigos, clientes e pela sociedade.
Inicialmente, Jesus Lange Adrien atuou como rábula, o que era de costume em uma época em que não havia Faculdade de Direito, ou muito poucas. Porém, mais tarde, recebeu o devido reconhecimento profissional.
Constituiu família com a já falecida dona Maria Áurea, com quem teve três filhos, dois deles também já faleceram: Jesus Lange Adrien Filho e Maurício Drumond Lange Adrien. Somente a filha Ana Amélia ainda está viva. Nenhum dos três filhos seguiu a profissão do pai. O patriarca Jesus Lange Adrien morreu com 98 anos, está sepultado no Cemitério da Piedade, em Cuiabá.
“Deixou para nós esse patrimônio de respeito e admiração. Muito me honra ter o nome dele. Exemplo de responsabilidade e pioneirismo, meu avô se dedicou muito a Mato Grosso, diz o neto Zito.
Para ele e sua família, a OAB-MT sempre foi vista como uma instituição muito bem respeitada, com uma história importantíssima, especialmente no final da ditadura, em que se empreendeu grande empenho em prol da retomada da democracia. “É uma alegria que meu avô seja o dono da certidão 001”.
A primeira movimentação para a criação da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso (OAB-MT) começou em 1932. A ata da Assembleia Geral dos Advogados, realizada em 22 de março daquele ano, registra a eleição da primeira diretoria para constituir a OAB-MT, que também foi publicada no Jornal Gazeta Official, nº 6659, de 18/11/1933, páginas 6 e 7 – APMT.
A sessão foi presidida pelo então desembargador José Barnabé de Mesquita, considerado à época autoridade máxima na instância do Judiciário.
Foram eleitos para presidente, o desembargador aposentado Salvador Celso de Albuquerque; para vice-presidente, Antônio Garcia Adjunto; para 1º secretário, João Vilasboas; para 2º secretário, desembargador aposentado Manoel Pereira da Silva Coelho e para tesoureiro, Euphrasio da Cunha Cavalcanti.
Assim, após a instalação da diretoria, criou-se um livro para registro dos compromissos dos advogados que passariam a constituir a nova Seccional da OAB.
Em 90 anos de existência da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), apenas duas mulheres ocuparam o cargo mais alto na instituição, a presidência. São elas Maria Helena Gargaglione Póvoas e Gisela Alves Cardoso.
São duas mulheres dentre 29 presidentes. Duas líderes femininas que romperam as barreiras da desigualdade de gênero e marcaram a história da advocacia mato-grossense.
Maria Helena conduziu a OAB-MT no biênio 1993/1995 e no triênio 1995/1997. Já Gisela Cardoso é a atual presidente da instituição, eleita para a gestão 2022/2024.
Filha do historiador e escritor Lenine de Campos Póvoas, a advogada Maria Helena Gargaglione apreciava as letras desde criança. Ao lado do pai, que também era advogado e professor, a pequena Maria Helena se interessava por planos de aula, textos e conversas com ele e ao redor dele.
A jovem Maria Helena não teve dúvidas em seguir os mesmos passos do pai e ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Uma vez conquistado o diploma e a certidão da OAB-MT, por meio do Exame da Ordem, começou a atuar na profissão, destacando-se pela firmeza e conhecimento jurídico.
Aos 34 anos, reuniu em torno de si grandes nomes da advocacia, formando uma forte chapa para disputar a presidência da Seccional e obteve êxito. “Consegui essa façanha, em um momento em que não se falava quase nada em liderança feminina, foi um marco muito importante para a mulher, para a advocacia e para sociedade”, comentou Maria Helena, parabenizando a OAB-MT por seus 90 anos.
Em suas duas gestões, Maria Helena projetou ainda mais a instituição na defesa da advocacia e na interlocução de profusas causas sociais, sendo protagonista em ocorrências que marcaram o desenvolvimento de Mato Grosso, especialmente o Judiciário.
“Lembro-me que na época era uma dificuldade muito grande a escassez de juízes nas comarcas do interior e cobrávamos isso com muita força. Na Justiça do Trabalho, houve uma expansão muito grande do TRT 23 e foi instalada a Defensoria Pública aqui, antes mesmo do que no Estado de São Paulo. Realizamos o 1º Debate da Ordem dos Advogados de Mato Grosso com candidatos ao Governo (o que se estabeleceu como tradição), arrancando deles na unha compromissos de interesse da advocacia”, relembra.
Maria Helena Gargaglione Póvoas é cuiabana (66 anos), mãe de três filhos e desembargadora do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), o qual já presidiu no biênio 2021/2022.
Filha do caminhoneiro Augusto Guimaro Cardoso e da dona de casa Ana Maria Alves Cardoso, a segunda mulher a presidir a OAB-MT veio para quebrar diversos paradigmas que cingem o cargo atual que ocupa e a profissão que escolheu.
Gisela Cardoso é a primeira da família a conquistar o diploma universitário. Estudou em escolas públicas e trabalhou para se manter financeiramente durante todo o período que cursou Direito na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), no final dos anos 1990 e início dos anos 2000.
Dinâmica e à frente de seu tempo, Gisela Alves Cardoso se diz uma apaixonada pelo Direito e sempre foi inspiração em sua família.
Sua história com Mato Grosso e com a advocacia do estado começa quando ainda era criança: sua família migrou de São Paulo, onde Gisela nasceu, para Colíder, Mato Grosso (632 km distante de Cuiabá), seguindo o sonho por dias melhores.
Ainda na adolescência, ela já se destacava precocemente. Estudiosa e dedicada, resolveu começar a dar aula de inglês. Na juventude, trabalhou em diversos empregos, até iniciar a carreira como bancária. Mudou-se para Capital, onde fez a faculdade de Direito.
Formou-se em 2001, enquanto trabalhava como bancária – carreira que abdicou para se dedicar ao exercício do Direito.
Após formada, foi professora universitária por 10 anos, de 2007 a 2018, e tem enorme carinho pela docência, tendo contribuído para a formação de dezenas de jovens advogados. É especialista em Direito Empresarial e sócia no escritório Cardoso e Cardoso Advogados.
Com duas décadas de carreira na advocacia, faz parte da diretoria da OAB-MT há seis anos. Já foi secretária Geral-Adjunta e vice-presidente da Seccional (gestão 2016/2018). Também conduziu a Comissão da Mulher Advogada e participou da Comissão Nacional de Estudos Constitucionais. Atualmente, junto ao CFOAB é a coordenadora-adjunta do Colégio de Presidentes Seccionais da OAB no triênio 2022-2024.
Em março deste ano, recebeu a insígnia de Comendadora da Ordem São José Operário do Mérito Judiciário do Trabalho de 2023. A distinção é concedida pelo Tribunal Regional do Trabalho 23ª Região (MT), a cada dois anos, a personalidades e entidades que prestaram relevantes serviços à Justiça do Trabalho.
Orgulha-se de presidir a Seccional de Mato Grosso neste momento em que a Ordem dos Advogados instituiu a política de paridade de gênero nas eleições de todo o sistema OAB, ampliando a sua representação feminina.
Sua gestão tem sido marcada pela forte atuação na qualificação da advocacia e interiorização da Ordem dos Advogados.
Atualmente, Gisela Cardoso reside em Cuiabá e é casada com o também advogado Marlon Hudson Machado e mãe de João Pedro.Filha do caminhoneiro Augusto Guimaro Cardoso e da dona de casa Ana Maria Alves Cardoso, a segunda mulher a presidir a OAB-MT veio para quebrar diversos paradigmas que cingem o cargo atual que ocupa e a profissão que escolheu.
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT) chega aos 90 anos de serviços prestados à advocacia e à sociedade mato-grossense. Orgulhosos de fazerem parte dessa história, presidentes citam importante legado. É uma “sábia idosa” que muito contribuiu com a formação e qualificação da área do Direito, trava luta constante pela ética na profissão, faz a defesa intransigente da Democracia e da Constituição Federal e contribui para a discussão de grandes temas, buscando saídas para problemas difusos.
Gisela Alves Cardoso, presidente da OAB-MT, diz ter a honra de conduzir a instituição nesse momento histórico, e cita a quebra de um importante paradigma, que é a paridade de gêneros em sua eleição. “Isso também é um marco para eleger mulheres advogadas, muitas delas me mandam mensagens ou me abordam pessoalmente, agradecendo pela inspiração, pelo encorajamento, para que todas nós possamos estar em todos os lugares, possamos galgar na advocacia, que sempre foi um ambiente muito masculino. Isso começou a mudar. Estamos vigilantes, mas percebo uma evolução importante. Vendo cada vez mais mulheres na gestão da Ordem, confirma-se que este é um momento muito especial, de concretização daquilo que a gente luta há anos. A OAB é pioneira, ela sai na vanguarda. O projeto de paridade de gêneros representa a busca pela igualdade, que é princípio da nossa Lei Maior”.
Leonardo Pio da Silva Campos, que antecedeu Gisela na presidência, celebra a data comemorativa e ressalta que a OAB-MT é motivo de muita honra e orgulho para a advocacia e também para o Estado de Mato Grosso. “É um patrimônio da democracia mato-grossense, com acúmulo de inúmeros feitos, demoraria horas e horas para reproduzir a importância do trabalho da OAB-MT, para advocacia, para sociedade mato-grossense, porém destaco aquela que foi classificada como a audiência pública mais importante da história do Estado nos últimos 20 anos, cujo tema foi a concessão da BR-163, que agora culmina com o resultado profícuo, do Estado assumindo a concessão. A expectativa é que, com atuação da OAB-MT, a rodovia da morte passe a ser a rodovia da vida”.
Um dos ícones da advocacia mato-grossense, Francisco Anis Faiad, que conduziu a OAB-MT de 2003 a 2009, ressalta que são muitas as benesses. Especialmente ele destaca “a luta pela ética da advocacia e pela regularização da distribuição de certidões para advogados e advogadas que são formados e aprovados no Exame da Ordem”. Ele também enaltece a defesa das prerrogativas e a participação intransigente da OAB-MT na defesa da Constituição Federal. “Na minha opinião, essas sãos as maiores garantias que a nossa Seccional conquistou nesses 90 anos”, diz Faiad.
Membro honorário vitalício e ex-presidente da OAB-MT na gestão 1998/2003, Ussiel Tavares, destaca que, “já em seus primórdios, a Seccional de Mato Grosso influenciava a sociedade”. Em torno de si, foi criada, em 1934, a Escola Livre de Direito de Cuiabá, que funcionou até 1937 e foi fechada pelo Estado Novo, porque a nova legislação não permitia aos funcionários públicos exercerem função de docentes. Desde então, nasceu o desejo de criar uma Faculdade de Direito, e isso só veio a se concretizar em 1956. Célula mãe do que viria a ser a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), fundada em 1970, à qual foi incorporado o curso de Direito e outros que já existiam: Filosofia, Ciências e Letras.
Sendo assim, a OAB-MT tem em seu DNA o respeito e a crença de que o ensino, a qualificação contínua, é caminho para a entrega da prestação jurisdicional de excelência e tem em sua Escola Superior de Advocacia (ESA) a concretização desse projeto.
Outra ícone da advocacia mato-grossense e primeira mulher a presidir a OAB-MT, Maria Helena Gargaglione Póvoas, ressalta que a instituição deixa legado interferindo nas grandes questões. “Isso porque pode e deve opinar e tem feito isso com brilhantismo, à luz da legislação, cumprindo o papel de voz da Sociedade”, assegura Maria Helena, que é também ex-presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT).
Ela diz ainda que não pode ser esquecida a árdua luta da Ordem dos Advogados contra a Ditadura Militar, em momento de obscurantismo político, em que muitos silenciaram. “Foram tempos duros, de prisões políticas, censura e a nossa instituição não se esquivou”.
Ao longo de 90 anos de história, a OAB-MT foi conduzida por 30 presidentes, sendo 28 homens e duas mulheres.